NA AUSÊNCIA DA MINHA AUSÊNCIA

NA AUSÊNCIA DA MINHA AUSÊNCIA

Na ausência da minha ausência

Te trago e levo em pensamento

Num vai-e-vem desconcertante,

E, na presença da tua ausência

Faço-me ciumento

E teu anónimo amante,

Ainda que por um só instante.

Tivera eu nos teus braços, os meus,

E nos meus lábios, os teus,

E as estrelas no firmamento

Sorririam a todo o momento

Pelo nosso contentamento.

Sorririam também as aves que, no céu

Esvoaçariam daqui para ali,

De lá para cá, emitindo sibilantes

Gorjeios e sorririam também

Todos os grilos num gri-gri ensurdecedor

De ciúme, a chamarem pelo seu amor.

Também o triste rouxinol,

Já depois de posto o sol

E que junto de regato de calmas águas

Seu cântico de mágoas

Espalharia aos ventos

Os seus muitos lamentos,

Por um momento se quedaria

Para escutar nosso beijo,

Na certeza, de que aconteceria

Conforme nosso desejo.