Nosso incerto amor

Nosso amor é incerto,

E tão certo

que dói.

Fica parado e se mexe.

Estabelece os contrários,

promove desencontros,

e atira – sempre -

a primeira pedra.

Acha que sempre é salvo

e derruba os muros.

Constrói afluentes

onde só há pedras.

Onde só se está só.

Mira pelo olho mágico

quando estamos nós dois

e não nos deixa a sós.

Nunca a sós - nosso amor...

Tão indiscreto e aberto,

tão sutil e escondido.

Como um segredo.

Um segredo a dois.

A três, se contá-lo.

Como não deixá-lo?

Como fazer com que fuja, se é cativo?

Ele se crê tão valente!

Desafia a gente,

desafia os muros

que nós mesmos colocamos

Para nos proteger.

Ele sabe.

Sabe de ti

sabe de mim.

E de nós três.

Sabe onde mora

e onde se esconde.

Sabe da cama,

Da tua ausência,

da minha fuga.

Coleciona figurinhas

de nós dois.

Fotografias nem sempre antigas

porém paradas, algo estagnadas.

Escuras ou claras,

sempre queimadas

pelas loucuras.

E eu o consigo

e guardo comigo.

Às vezes, eu o castigo.

Tu o cultivas

e o alimentas.

Nem sempre alerta.

Ele se mexe,

Ele se encaixa.

Nunca relaxa.

E entre as ausências

tuas ou minhas

também se confunde.

Nosso amor é criança,

é velho, é mulher.

É guerreiro,

É passageiro

de um trem sem nome.

Não dorme.

Não insiste.

Não se importa.

Mas exige.

Fito seus olhos

mesmo no escuro.

Vejo–o perto,

como um punhal

atrás de minha porta

na tua ausência.

E na presença

de tua figura

acredito nele.

Atiro sempre

a primeira pedra-

Vejo que espera

enquanto te amo.

Mesmo eu, tão nua

e tão sua

vejo que olha...

E não fecho a porta.

Marieta
Enviado por Marieta em 23/07/2006
Código do texto: T199870