AMOR À DISTÂNCIA
Sinto que alguém me espreita
do lado de fora da janela,
finjo não perceber
e vou-me despindo lentamente.
Caminho pelo quarto
em trajes menores,
sento-me na cama
frente ao espelho
agarro a escova
e vou deslizando com ela
os fios dos meus cabelos.
Mando-me para trás
e fico deitada de costas,
elevo as pernas
sacudo-as com força
e um dos sapatos salta
fazendo estrondo
ao cair no chão,
o outro desaparece,
saltou pela janela
indo cair
debaixo da árvore
onde esse rapazola
está empoleirado
escondido entre os ramos.
Sei que estou a ser observada
e rebolo-me na cama
para um e outro lado
e páro, fixando o tecto.
Deixo-me adormecer
assim abandonada
nesta cama vazia de amor.
Alguém está com o olhar
fixo em meu corpo.
Alguém que me deseja,
e que vai enlouquecendo
aos poucos por não me ter.
Alguém entra no quarto
beija-me a face
apaga a luz e sai.
Alguém a quem devo respeito
alguém que me mantém
que não me deixa faltar nada
mas que não me dá amor,
pois nada tem para me dar.
E assim vivo presa
a este amor sem amor
frio...
enquanto alguém me deseja
e através da janela
sente o coração explodir
por tanto me querer.