UMA HISTÓRIA DE AMOR

Tudo parecia tão bem...
E, apesar dos desencontros de alguns momentos,
O amor continuava mais forte que os tormentos.
Um dia, porém, você partiu,
Não me disse adeus e a esperar
Deixou muitos sonhos desnorteados.
Entre o desespero e a esperança,
Continuei regando a ilusão,
Crente de que tudo voltaria ao normal.
E assim (em vão), mergulhei-me por inteiro
No revigorante mar do regresso,
Mesmo sabendo que sofreria
Mas, consciente, não lhe peço
para meus braços retornar.
E aí, indiferente a todo sofrimento,
O vento confidenciou-me que seus carinhos
– Outrora meu deleite –
Seus beijos – meu desejo –
São agora de outro inquilino do amor.
Mas, indiscreto e leal, o tempo
Trouxe-me o amargo gosto do fim,
Deixando-me na boca o sabor repugnante da dor,
A vontade voraz e insaciável de odiar você,
Mais e mais e sempre, a cada instante
Que a eternidade consumisse.
Em prece desesperada clamei por tudo aquilo
Que num belo dia me levou a amar você.
E tive vontade de que Deus multiplicasse ene vezes
As forças que me fizeram brotar o amor,
Transformando-as em ódio – sentimento puro e sincero.
Só aí compreendi tudo aquilo que certa vez me dissera:
– O amor e o ódio são faces da mesma vida,
Têm forças idênticas e, às vezes, a própria razão supera.
Quis por tudo me libertar de você,
Vomitar um amor que por tantas vezes me fez poeta.
Refugiei-me, então, nos braços da saudade e adormeci.
Tive o sonho da aceitação e, em lugar do ódio,
Que por tantas vezes me consumiu,
Escrevi mais este poema-desabafo,
Que, se ultrapassado e careta,
É o reflexo de cada gameta
– Célula mater do amor.
Se agora o tudo que me resta é mudar a rota,
Buscar outro caminho, andarei, a passos largos,
Sairei do desalinho que o desencontro me levou.
Quero, portanto, um porto feliz,
Amar como nunca outra felina,
Pois a razão nos diz que de erros se tira lição
E mesmo frente à desilusão,
O amor sempre e sempre nos ensina.

9/4/1988 (9 horas)

NOVAIS NETO. Flutuando na Areia. Salvador: NN, 1988, p. 25. 112p.