POEMA DE ÁGUA
POEMA DE AGUA.
I- Tem este poema em sua feitura a mais pura das substâncias.
II- Dou-lhe o som líquido e cristalino a suas bolhas efervescentes de moléculas.
III- Fiz-me poema de água, esta realidade eterna, para estar sempre presente em teus lábios, para que de sede não venhas morrer.
IV- É um poema que canta entre seus versos cheios de cascatas e ramagens a melodia do existir.
V- Dou-lhe também o prazer para que se auto-satisfaça, e que desta mesma sede não venhas também fenecer.
VI- Este poema foi feito de água silvestre, quando ainda tu eras semente pronta para germinar em minh’alma.
VII- E ele haverá de te lavar candidamente, refrescando a intimidade do teu corpo com os frescores naturais que ele mesmo te provoca.
VIII- Tu serás saciada por completo se beberes dos versos linfáticos de que se compõe, restabelecendo as tuas entranhas como primitiva nobreza a mim prometida.
IX- Este poema foi feito de água, para que amoleça o teu coração, transformando-o em macia pétala para que eu possa depositar os meus inflexíveis sonhos.
X- Ele haverá de correr em tuas artérias como um rio invisível, navegando-te em rubras ondas de paixão.
XI- Que te deixará mais viva, alimentando-te no silêncio aquoso com os seus micros plânctons, até a tua mais pura e última intimidade.
XII- Saberás assim que me fiz poema líquido, invisível e translúcido, para chegar mais próximo de ti, e nessa transfusão surrealista não saberias mais, se eu estou em ti ou tu é que navegas em mim.
XIII- Quero morrer neste poema confeccionado de forma irreverente para poder te disputar pela eternidade quando, deixaremos de ser líquidos e seremos o próprio ar, condensando-se com o calor para voltarmos a ser um poema de amor e nada mais.
Eráclito Alírio