ONDULAÇÕES ERÓTICAS - O poema que deu título ao meu último livro

Olhei em torno da praia

Apreciando

Toda a sua beleza

Toda a sua imensidão

Onda após onda

Até ao infinito

Viajando nas ondas

Eu vi musas

Musas e ondas

Ondas proibidas

Corpos desnudados

Olhos sorridentes

Bocas saciando-se

Dedos deslizando

Macias mãos

Formosas pernas

Perfumados pés

Pele de galinha

Flocos de neve

Fogo de artíficio

O desabrochar

De cravos

E rosas vermelhas

O nascer do Sol

Uma infinidade de arco-íris

O pôr do Sol

A lua namorando

Montanhas florestas baías

Ondulando

Onda após onda

E não via nada

Nada e tanta coisa

E sonhava

E ouvia gritinhos

E gemidos

E gemia

E eram lágrinas doces

Delírios voluptuosos

O vaivem das ondas

Andorinhas brincando

Éguas dançando

Golfinhos em acrobacias

Harpas e saltérios

Orquestras descomunais

O canto das sereias

Lobos uivando

Princesas sussurrando

Entre vibrações e convulsões

Ondulando

Onda após onda

Naquela areia dourada

Sobre ondas insinuantes

E sob tórrido sol

Bronzeavam-se rostos

Moviam-se corpos

Rostos e corpos

Com tantas ondas

E eu fantasiando-os

Tão desnudados os via

Em ondulações eróticas

E assim eram rostos

Eram corpos

Que eu podia ver

Tocar mexer

E sonhando

Neles podia ondular

Tão reais

Como todos aqueles

Por onde se pode viajar

Aproximando os nossos dedos

Daqueles corpos desnudados

Macios como a seda

E com os nossos dedos

Como quem toca viola

Acariciando e ondulando

Onda após onda

Primeiro os seus dedos

Depois as mãos

E subindo subindo

Sentindo o pulso

A aproximar-se

E aí vem o antebraço

Com o braço

Já a espreitar

Tão belo e bem torneado

Aí está o ombro

E ainda tão longe

Desse desabrochar

De cravos

E rosas vermelhas

Já o meu corpo tremia

Como que saciando-se

Nessas ondas proibidas

Que ainda não toquei

Nem cheirei

Mas pressinto já

Saboreando

Um líquido divino

Ondulando

Onda após onda

Continuo a viagem

A viagem por esse corpo

Que para mim é virgem

E que importa

Que seja virgem

Para mim é virgem

E pronto

Detenho-me na tua face

Enrolo-me nos teus cabelos

Afago-os

Suave e demoradamente

Nossos olhos sorridentes

Parecem hipnotizados

E continuo a viagem

Só que meus dedos

Não seguem

A direcção

Dos meus olhos

E ao som de harpas

Harpas e saltérios

Orquestras descomunais

Penetram

Penetram nesse mar

Que são as tuas costas

Um mar de espuma

E há como que

Uma maresia

Noto pele de galinha

Quando das coxas

Meus dedos deslizando

Como andorinhas brincando

Ou éguas dançando

Delas se aproximam

Nesse momento

Quase perco o controlo

Os dedos

Dão lugar às mãos

Que literalmente voam

Voam em todas as direcções

Como que sugando

Sugando ou saboreando

Todas essas ondas

Num frémito incontrolável

Freneticamente rodopiando

Como se as minha mãos

Asas tivessem

Ondulando

Onda após onda

Não sei se gemes

Sei que te oiço gemer

E ao som desses gemidos

Minhas macias mãos

São cada vez mais ágeis

Mais leves

E mais brandas

Como se fosses

Finos e sensuais

Flocos de neve

Tempestades de fogo de artíficio

Ou deusa cristalina

Em ondulações

Onda após onda

E avançam avançam

Avançam pelo teu corpo

Em livre viagem

Deixando as nádegas

Deliciando formosas pernas

Envolvendo delicados

E perfumados pés

Em mil e um beijos

E subindo subindo

Subindo novamente

Percorro apaixonadamente

De forma artística

E sensualmente beijando

Onda após onda

Todas as tuas ondas

As tuas pernas

As tuas nádegas

As tuas costas

Os teus ombros

A tua cabeça

E quanto mais

Te contorces de prazer

De prazer mais enloqueço

No pescoço tu gritas

E há gritinhos

E gemidos nas tuas orelhas

Onda após onda

Calcorreio a tua testa

Cerras os olhos

Neles me embrenho

E que olhos

Escultura do teu ser

Qual nascer ou pôr do Sol

Tal como a boca

Cópia fiel de um original

Que se perdeu no tempo

E lábios com lábios

Lábios carnudos

Coloridos luzidios

Uma infinidade de arco-íris

Que me prendem

Me amarram

Numa doçura sufocante

Ou jogo interminável

Divino

De morrer

Ondulando

Onda após onda

E descendo descendo

Descendo pela faringe

Laringe traqueia

No plexo solar

Me aconchego

Onde o coração pulsando

Parece explodir

E ondulo novamente

Nessas insaciáveis

Ondas proíbidas

Onde quase me perco

E num rodopio inebriante

Sentindo o umbigo a aproximar-se

Teu corpo move-se

Como que em apoteótica

Dança do ventre

Ondulando

Onda após onda

E continuo a viagem

Libertando toneladas de adrenalina

Avisto uma montanha

E penetro penetro

Penetro numa verdadeira floresta

Entre sonhos e magia

A que se segue

Toda essa baía

Onde me retenho

Uma eternidade

Nessa cratera vulcânica

Em carícias mil

Como abelha

Em jardins floridos

Entre ondas vibrantes

Voluptuosas gigantes

Autênticos maremotos

Numa avalanche

De emoções e convulsões

Ondulando

Onda após onda

Não sei como estavas

Mas sei que deliravas

Ou era eu que delirava

Não importa

Era apenas a minha boca

Ou eram as minhas mãos

Já era todo o meu corpo

E todo o meu ser

Ou quem sabe

Apenas a tua boca

As tuas mãos

O teu corpo

Eram corpos

Ondas e corpos

Corpos vivos

Tão cheios de vida

Corpos que não assentavam

Levitavam

E ondulavam

E já não eram dois corpos

Não

Não eram dois corpos

Como dois corpos

Podiam ser

Se um só eu sentia

E as minhas mãos

Já não eram

Apenas as minhas mãos

Como as minhas mãos

Podiam ser

Se eram as tuas

Que eu sentia

E a minha boca

Já não era apenas

A minha boca

Como a minha boca

Podia ser

Se era a tua boca

Que eu sentia

E os nossos corpos

As nossas mãos

E as nossas bocas

Eram apenas

Uma obra de arte

Em movimento

Ondulando

Onda após onda

Onde todas as peças

Se encaixavam

Harmoniosamente

E eram um universo

O mais belo universo

Que alguma vez

Algum poeta

Conseguiu descrever

Ondulando

Onda após onda

Onda após onda

Onda após onda

Até ao infinito

Policarpo Nóbrega
Enviado por Policarpo Nóbrega em 23/06/2011
Código do texto: T3053119
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