Inclemente algoz

Eis-me de novo aos teus pés!...

Conheço esse teu chegar!

Sei teu gosto... e até teu cheiro!

No começo és sempre doce,

Não te percebo avançar.

Vais chegando... sorrateiro...

Confunde-se até com mel:

Vem com cheiro de presente,

Revolve o interior da gente,

Faz do corpo um fogaréu...

Tu te mostras com mil caras:

Traz beleza em cada gesto,

Um certo olhar penetrante,

Um sorrir desconcertante...

Mas tuas caras ficam caras se a gente aposta no resto!

Os sintomas vão surgindo,

Vão nos apertando o peito... num crescente, sem aviso!

De início faz-se impreciso:

Vê-se o bom-senso sumindo, depois se fica indeciso...

A gente chora sorrindo sem sequer saber porquê!

Faz besteira igual menino,

Dá bandeira, faz vexame, acumula desatino...

E acha que ninguém vê!

Ah, como és ardiloso!...

Chegas todo disfarçado de bonzinho, de parceiro...

Como sabes ser manhoso!

Mas teu golpe vem certeiro,

Vai direto ao coração!

E ai de quem se mostrar fraco...

Pois já não aceitas um “Não!”

É quando o antes matreiro

Mostra o seu lado velhaco

E anula qualquer “senão”!

E o antes dissimulado trocar do cotidiano

De um “mostrar-se disponível”,

De vontades tão contidas,

De gentilezas sutis,

Retira o véu, baixa o pano, nos revela o arruaceiro:

Vira um vulcão de vontades que não respeita medidas:

Deseja só ter desejos,

Oculta-nos as saídas,

Dispensa o dissimulado e mostra-se por inteiro!

Seu gatilho é um só momento,

Aquele que só ele vê e que aguarda impaciente,

Que é o do nosso encantamento!

Quando nos vemos entregues, sem mostrar-nos resistentes...

Pois que ardentes!

Fascinados!

Domináveis e... carentes!

E então, sem qualquer clemência, nos devora com seus dentes

Pois que a todos os avisos já não damos mais ouvidos.

Lá estamos:

Submetidos

Simplesmente vulneráveis...

Pedintes...

Desprevenidos!

Eros, és tão traiçoeiro!...

Te aproximas sorrateiro,

Tão disfarçado de paz,

Me cercando de armadilhas disfarçadas de belezas,

Me lançando em cada olhar tantas iscas de certezas...

Esse falso olhar de calma que não se sabe o que traz.

Não se espere que em teu seio se revele compaixão,

Pois que vens, tomas-me a alma de maneira tão atroz,

Transmutando o corpo inteiro neste insano e frio algoz

Dominado por seu mestre, tresloucado de paixão!

Implacável tu te mostras, qual infame ditador

Que primeiro me alicia,

Aos poucos me contagia,

E em seguida me vicia até que eu morra de amor!

Obras publicadas: www.lojasingular.com.br

Luiz Roberto Bodstein
Enviado por Luiz Roberto Bodstein em 30/12/2011
Reeditado em 19/03/2012
Código do texto: T3414072
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