A BELA DA TARDE
Amo a dona
Que passa pela minha rua,
Todas as tardes
Quando o sol se poe no céu.
Metida dentro
De um vestido apertado,
Com o guarda chuva enfeitado
De rendas e véus.
Amo o sorriso vergonhoso,
O jeitinho malicioso,
Com que ela me vê.
E eu meio sem graça,
Escondido por traz da vidraça,
Só pra fazer pirraça.
Finjo não perceber.
E lá vai ela rua abaixo,
Com a brisa mansa
Desmanchado seus cachos,
Que deslizam suaves, no mesmo compasso.
Negros cabelos, presos por um fino laço.
Seu perfume de flores espalha-se pela rua,
Acredito até que entonteça a lua,
Que muito indiscreta
Mostra-se enciumada.
E eu debruçado á janela
Sigo os passos dela,
Até seu vulto sumir pela calçada.
Ah; vão se as noites, vem os dias.
E eu fico cismando em perguntar
Aonde iria minha Bela Da tarde?
Quem seria o alguém que ela iria encontrar?
Mas pra que desvendar este doce mistério?
Se eu sei que amanhã ela irá retornar.
E eu com certeza estarei á janela,
Esperando ansioso para vê-la passar.