DE TANTO AMAR

Quando te vi, súbito, ornou-me o espírito

A esperança de que me pudesses amar.

Não há promessa mais vã

Nem uma que mais engane

Que mais se negue à virtude

Do que a promessa de amor puro.

Este, o amor, expressa com toda a excelência

O pendor comunicativo dos homens.

E ao amar-te assim, profundo

Eu, egoísta que sou, intimamente

Me ligo ao mundo.

Amo-te, pois, para ser tu

Compassivo como o amor pranna

A imatéria amante que se espraia

Que transpõe o alto muro

A carne do Deus dos ateus

Em sua face mais humana.

Amo-te para ser eu, em sendo tu

Querer os teus próprios quereres

Privar de teus nédios momentos.

Amo-te para te-la em meus braços

Ou para rete-la em pensamentos.

Amo-te mesmo que me reste

Perde-la, por frágeis os meus poucos talentos

Por inúteis, os meus pífios poderes.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 31/08/2007
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