NO TEU CORAÇÃO
No teu coração de manteiga,
Trazes nos teus braços da vida,
um olhar da noite muito leiga
como flores de cimento.
E nas tuas mãos de cetim
Lá vai na rua o jumento.
E uma moleirinha perdida.
Com os olhos da madrugada
Nas pétalas de selim;
Como árvores pela calada,
e na voz do vento assim,
lá anda a lua apaixonada
trazendo na algibeira
uma côdea de carne alada
quando o sol está despenteado,
grita com força lá na eira
e naquela montanha triste,
já lá morreu uma enxada
e naquele jardim adormecido,
com os bancos de cristal,
nas pernas da ternura,
se vê uma Mulher co’avental.
E a chuva lá vai chorando…
Pelas ruas de Lisboa sem igual.
com uma trovoada de flores,
troveja a noite e desiste,
e ao longe o mar nervoso,
berra aos peixes já teimoso
E tu, nunca viste
Nessa madrugada acumulada.
LUÍS COSTA /13/02/2004 .