Encanto versus Desencanto

Alma que um dia fez-se encanto

Inebriou-se de acalanto

Suspirou ares aprazíveis

Frescor de perfume natural

Exalando no fundo d'alma

Refrigério singular, esplêndido

Abriu-se o peito e fez vibrar

Pura e suave melodia

Melodia que pulsa forte o coração

Suspensa no ar, levada ao vento

Pousa, encontra solo fértil

Germina aos quatro cantos

Faz-se encanto...

Dias sombrios se apossou d'alma

Sem piedade, qual erva daninha

Consumindo o néctar da vida

Encanto se desfez

Padece agora na escuridão

Figuras distorcidas a vagar

Corpo incapaz de protestar

Membros retraídos ao léu

Espada afiada cravada no peito

Aparta como cordão umbilical

Sangue a jorrar descomunal

Desce da face como lágrimas

Caminhos árduos a seguir...