SANHAÇO

A alteridade que em vão nos pugna

faz-me, ao espelho, buscar a tua imagem

para irmos juntos, co´as as almas flamas

refletidas sempre, desde aparte.

Se a prosódia é por estilo,

em transitivo o verbo Ser, tornar

posto que para te amar

mais que querer, é preciso Ser-te!

Se pouso em teus olhos, tristes, e umedeço

se ao grito surdo do mundo, eu silencio

se em teu verso solto, me reconheço

arauto de um viver confuso, que anuncio

este amor, que tive, e que me esqueço

é um ardor mais profundo, que fastio.

Ferve, em ti, a epiderme, no equinócio ou veranico

como um sanhaço tece enlaçada trama, fio a fio.

Quisera-te a alumbrada seiva dos desejos;

A claridade do sorriso na fronte bela;

Quisera os sons perdidos no solfejo, e de manhã

no céu bruxuleante, o derradeiro sortilégio de uma estrela.

No claro/escuro, ao fulgor de uma vela acesa

velar-te em longo beijo de cinema

num filme amante em que, por fraco, eu anoiteço.

RicardoSReis
Enviado por RicardoSReis em 29/10/2007
Código do texto: T714934