RECADO

RECADO

Tu, que um dia me surgiste do nada,

Tu, que do mundo agora és chegado,

Do meu amor, por quem fui deixada,

Dize-me, dele trazes recado?

Não há o que temer, dize rápido!

Essas nuvens que vês ao redor

Não chovem punhais nem são de lápides...

Não temas! Meu amor é maior!

Dá-me o recado, sei que o trazes!

O meu amor mandou-o pra mim!

Conta-me! Tua mudez são tenazes,

Tortura pior que meu próprio fim!

Dá-me a certeza de que estou certa,

Que ele apenas quis ver além-mar,

Que a vida deixou a porta aberta,

Neste recado que vais me dar.

Que ele ainda me ama e me quer,

Que me deseja nas entrelinhas,

Que pra ele sou a única mulher.

Dize-me! Não vês? Tu me definhas!

E se esse é o recado mandado,

É o que eu, do meu amor, esperava.

Outro não seria, pois meu amado

É a causa do que me faz escrava.

E, depois volta, conta o que viste,

Das nuvens que me cercam, tão densas,

Das horas nuas, a dor que persiste!

Saiba ele do amor que me compensa!

Dize-lhe que sou toda de esperas,

Vida que me dei por sua esmola,

Que ele é a causa dessas quimeras,

Sonhos presos; sem porta a gaiola!

Faze-o saber que, quando voltar,

Se não tiver meus olhos fechados,

Meu corpo intacto lhe será altar

Para que nele queime em pecados.