Incerto

Por que não me olhas?

Por que me ignoras?

Se me amaste outrora

Me desolas agora

Ou então nem me amaste

Simplesmente me iludiste

E com um mero abraço

Disseste-me: desiste

Mas eu não desisto

E se me questionas, respondo:

Não desisto porque

Sei que um dia estáras pronto

Pronto para dizer

Apenas mais do que peço pra ouvir

Pronto para dizer

Que um dia dura mais do que se pensa

Que fui a você uma recompensa

Ou que simplesmente não fui nada

Mas um nada que é mais que tudo

Que simplesmente fiz despertar em você

O melhor dos piores prazeres do mundo

E se um dia eu ouvisse

Que ninguém é alguém que existe

Eu iria dizer que o certo é decerto incerto

E que o medo é apenas falsetes de um concerto

E que palavras são apenas vidas expressas

Em um papel fuleira

Cheio de borros e marcas

De uma emoção corriqueira

Mas que é mais que passageira

Algo que não se explica nem replica

Mas que simplesmente se fala

Que nada às vezes é piada

E que às vezes tudo é menos que se imaginava

E que é aí que se perde a rima

De algo que não se imagina

E é aí que o poeta

Apenas não sabe mais o que diz

Mas sabe que o que diz

É algo decerto certo

Mas se o certo é incerto

Então decerto que isso é incerto

Uma vez que era certo

E tudo isso não se diz

Mas está a se dizer

E o amor está a acontecer

Bem debaixo do nosso nariz

E a vida está a correr

E esquecemos o que é ser feliz

E se o suicídio às vezes é benéfico (?)

Então não esperes que o amor seja maléfico (??)

E se isso não tem nada a ver

Então pares de ler, venha escrever

Pois quando o poeta não sabe mais o que diz

Simplesmente diz que quer ser feliz

E se o poeta for eu

Então simplesmente direi a você

Que se não me olhas

Eu sei que pensas em mim

E sei que se não me dizes nada

É porque estás com mais receio que eu

De que um "oi" talvez seja "adeus"

Então por que simplesmente não me dizes adeus?

Pois se o incerto é certo

Então decerto é certo

Que o amor é incerto

E o nosso amor de poeta

É simplesmente mais que uma nuvem inquieta

Que não sabe o que quer

Mas simplesmente sabe que é algo mais

Talvez até mais que o mais

E que um simples abraço

Talvez tenha despertado a paz

Ou a nossa guerra de olhares fulmejantes

Mais que replicantes

E mesmo assim ignorantes

De um mundo onde (nós) amantes

Somos poetas que não sabem o que dizer

Mas que simplesmente se põem a escrever

Algo que não se diz,

Mas que simplesmente estão a dizer

E bem debaixo do nosso nariz

Bem debaixo do nosso nariz.

Emanuele Valente
Enviado por Emanuele Valente em 22/03/2008
Código do texto: T911690
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.