UM DIA DE FILHO
Pai!
Um dia fui sonho.
Fui plano.
Fui verso.
Fui chão,
labareda e canto.
Pisei na lua,
pintei a rua,
brinquei com’s bichos,
surfei no céu e, no entanto,
eu só queria
o azul do começo,
no lado da terra,
no lombo do rancho,
no som do Raul.
Do Caetano.
Do Chico.
Do Zé.
Do Tom.
Do Tim.
Do Rei.
Do Pai.
Ó meu pai!
Meu pai,
meu Pai.
Catei teus ares.
Colhi teus lírios.
Teus cantos.
Teus contos.
Teus mares.
Plantei um verso.
Dois versos.
Três versos.
Um poema e tanto.
E assim, pai! No teu dia,
passo a passo
revivo teus passos
e passo
deixando no espaço,
onde passo,
o perfume
dos meus,
dos teus,
dos nossos
ex-passos.
Do livro "Poesia Descalça"