Ode a um velho Fícus
O velho Fícus
Perdido no tempo
E o tempo
Consumindo-se
Feito incenso queimando.
Os artelhos da árvore
Cada vez mais grotescos
Tomavam o terreno
Como celtas errantes.
Seus galhos torcidos
Pelo tempo inclemente
Sustentavam outros tantos,
Mais tenros, mais nobres
Onde repousavam
Suas folhas fidalgas,
Brilhantes e cerosas
Como os olhos da jia.
Ah! os ninhos perenes das rolas.
Os pardais, fim de tarde.
Cigarras vivendo,
Cigarras morrendo
Nesse universo verdoso
De seio impenetrável
Ao sol e a chuva!
Oh! ramas camarinhas.
Teu signo, teus anos,
Quem se importa?
Que mãos te agasalharam com a terra
Para chegares até aqui?
Benditas mãos!
Teu colo marcado
A canivete.
Nomes, corações, juras..
Tua sombra feminil,
Refrescante e cheirosa
Onde paravam os andantes,
Cansados, como a mendigar
O teu ar!
Ah! Ouvidora de alegrias e queixumes
Dos pássaros, insetos, vento, chuva..
Seria uma rua onde havia uma árvore?
Ou uma árvore onde havia uma rua?
Mas um dia sem prévio aviso
Eles vieram...
Ninguém protestou,
Ninguém que se saiba!
Vieram ruidosos
Vestidos de verde.
Nem claro, nem escuro!
Diria: um verde irônico.
Chegaram no frescor da manhã;
O hálito das folhas ainda serpeava no ar.
A serra rosnou, rosnou!
Mostrou seus dentes afiados, travados.
Depois, imitando o canto da cigarra
Ela em desatino cantou.
Foi um canto triste.
Um Invernal canto!
O homem e a árvore.
Quando morre o homem, colocam-no sob a terra, e a árvore, tiram-na da terra para morrer!
06/06/2012
José Alberto Lopes