Minha Canção do Exílio
A minha pátria sem palmeiras,
onde eu pudesse sonhar,
nesta pátria, como um rio,
como um monte verde, um cio,
uma chuva intensa e o estio.
Ah! Pátria minha
que me agride,
mas ensina-me
a evitar a morte.
Na permanência
e na poeira,
a minha pátria é rasteira.
E eu, mais um cristão sem sorte.
No corpo da minha pátria,
carpindo, carpindo,
eu faço brotar o grão.
Ah! A minha pátria mesmo
é o beijo da mulher,
que me ativa e alimenta:
Saliva feita de vinho,
boca com gosto de pão.
Ricardo S. Reis