Hora silenciosa

Minha hermética canção se aquieta
Presa nos versos tristes e molhados
Reflete o desejo contido em solidão
Que, à tarde, entre suspiros cortados
Perscruta minh’alma que bebe em vão
Os acordes que vêm de amor pontilhados.

Mergulho no mais profundo silêncio
E minh’alma em louvor se enternece...
Aos poucos, deixo vibrar minha voz
Que sacode o dia que, lentamente, fenece
Para acordar a lua sonolenta que vem após
Tão logo o sol no horizonte desaparece.

E nessa hora fecunda de sonho e poesia
Abro a janela da minh’alma e vejo
Transbordar minha taça numa afasia
Sob o cintilar das estrelas que antevejo
Tão logo morre o dia na palma da minha mão
Que se põe em oferenda pela graça de viver...