O lago dos meus poemas

Nubladas as manhãs, opacos poentes...

Os sinos, flores de supremos enleios,

Exalam sons das mesmas rosas gementes,

Colhidas no adeus aos meus devaneios.

No lago extenso em que ficaram meus dias,

Os cisnes, como estrelas entre trovões,

Afagam, em silêncio, as águas frias

Que, lentas, vão levando as estações...

Há nuvens negras sobre as altivas frontes...

Penumbra em dó maior... sem sol o concerto.

(Assim, da vida, longe as luzes e fontes),

E sobre um lago negro meu canto eu verto...

De que me vale ser poeta, em verdade,

Se em cada verso há dor final e agonias,

E os cisnes vão-se, ao som da minha saudade,

Batendo asas sobre as águas vazias?