O TEMPO E O VENTO

O TEMPO E O VENTO

Por que tanta pressa ó vento

se as linhas nem estão nos carretéis

pois inda estão nos campos

em frágeis flores de algodão ?

Se o papel-de-seda ainda é caule noviço

nas matas de eucaliptos,

o bambu inda se mostra tenro

e o menino na barriga inda é embrião ?

Por que essa pressa ó tempo ?

por que não retardas teus passos ?

Ó! capitão recalcitrante que só vê o norte!

Carcereiro da minha bela infância,

capelão de toda extrema - unção,

escrivão incontrito de toda morte !

Mirem-se naquele velho rio

que ora descansa em lagoas e remansos ,

ou brinca de patinadores nas margens ,

valsando em seus plácidos redemoinhos ,

mas que antes de se entregar ao mar ,

vai ainda em delongas entre as ramagens !

Porém , quanto mais forte eu sinto o vento,

parece mais rapidamente o tempo ,

em sua louca esteira me levar !

Pergunto ; serão o Tempo e o Vento,

gêmeos univitelinos, eternos meninos

unidos a nos envelhecer e a debochar ?

SBC-SP-José Alberto Lopes®

14/07/2006

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 15/07/2006
Reeditado em 28/04/2023
Código do texto: T194583
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