Pois quando eu era menino, não me queixava de nada!

Eu passava o dia correndo

Brincando pelo terreiro,

Subindo no pé de manga,

De jaca, de abacateiro.

Inventando bumerangue,

Brincando de bang-bang,

Pulando muro e calçada

Mais ligeiro que felino...

Pois quando eu era menino

Não me queixava de nada!

Passava o dia inventando

Brinquedo de pau e lata,

Construia uma arapuca,

Pra pegar nambu na mata.

A minha vida era boa,

Eu vivia sorrindo a toa

Naquela terrinha amada!

Mesmo descalço e franzino...

Pois quando eu era menino

Não me queixava de nada!

Podia faltar a roupa,

O chinelo ou o sapato,

O caderno mais bonito

Ou o lápis mais barato;

Podia faltar mistura,

Arroz, feijão e verdura,

Ou até mesmo coalhada

No tempo mais agrestino...

Pois quando eu era menino

Não me queixava de nada!

Tinha o dia, o arrebol,

Pra brincar co’a meninada,

Tinha a lua e tinha o sol,

A noite mais estrelada!

Tinha o rio, tinha o campo,

E também o pirilampo

Para pegar na piscada.

Meu Deus que tempo divino...

Pois quando eu era menino

Não me queixava de nada!

Agora que estou maduro,

Que não sou mais inocente,

Agora que meu futuro

do passado, virou presente.

Já não posso fazer tudo,

De contente, dá um pulo!

A coluna tá abalada...

A pressão em desatino...

Mas quando eu era menino

Não me queixava de nada!

Por isso sinto saudade

Do tempo da meninada,

De quando corria solto

Brincando pela estrada.

Sem nem sonhar com a fama

Chutando as poças de lama,

A mim banhar na chuvada...

Saudável feito um turino

Pois quando eu era menino

Não me queixava de nada!