O sol era a canção
Que regia o balé das andorinhas
O canto entardecido das cigarras
Aquela tarde morna de flamboyant
E tacacá fumegante
O crepúsculo espalhado de cores
Misturadas
Que ofuscavam o olhar tremulante
De chuvas de gotas prismáticas
 
Era um tarde de colibris
E bem-te-vis
Crianças nos velocípedes
A brincar
Sorvetes de maracujá
A vontade de namorar aquela
Menina de cílios azuis
Lábios pintados de hibiscos
Tomar refresco de groselha
Com gelo ralado
 
A noite vinha com seus acordes
Dedilhados
Seus versos declamados
E aquela lua cheia de poemas
Uivos de amor
Coração completamente apaixonado
Acendia o cigarro e as estrelas
Com o fósforo
E os lampiões bruxuleantes
Que iluminavam a cidade
 
Era um tempo em acreditávamos
No amor
Aquele poema do Drummond
Não tinha chegado ainda no último
Verso
E assim falava Zaratustra
Não tinha sido lido o fim do primeiro
Capítulo
Nenhuma página da náusea
Tinha sido ingerida
O Deus imanente de Spinoza bailava
Sobre as papoulas vermelhas
O sino da catedral ainda tocava no fundo
Do coração
Ainda não havia chegado o tempo de profunda
Resolução
Tempo em que o amor se fez
Inútil
E as andorinhas foram extintas.
 
              
                          Luiz Alfredo - poeta
luiefmm
Enviado por luiefmm em 17/06/2013
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