Chega saudade

Esse negócio de saudade

é estranho:

resguardo de perda

canto

caixa de pandora

fagulha de alimento

invento humano

coisa pequena que se finca

e fica

cutucando

querendo

novo alento

vento

oxigênio

veneno sem antídodo

boca sem paladar

voz que não pára de gritar inquieta

quieta

para dentro

eco

revérbero

do bom

Esse negócio de saudade

é coisa dolente

mas gostosa

como coceira no pé

bicho matreiro

sorateiro

que vai corroendo

fazendo caminho

carinho e dor

discreto

quieto

vai corroento

trazendo do ontem

cheiros

odores

misto de dores e amores idos

vindos

transas

distâncias para perto

e aflora impossibilidades

de novo

planos

buscas

bússolas e navios no porto

alenta viagens

de novo

acende desejos

ensejos incertos

acende velas

navega entre o pensamento e o peito

roça quem está quieto

não dá sossego

lá dentro

no âmago

lugar guardado

onde habita o secreto discreto e o incerto

incendeia de leve