Na tela da minha janela

Na tela da minha janela

Vejo, extasiada, pela tela da minha janela

A linha do horizonte entre o céu e a terra

E um sentimento dolorido de saudade me gela

Embarga minha voz pela tristeza que encerra

Essa hora de majestosa contemplação!

De longe, ouço os murmúrios tristonhos

Das águas que correm mansamente entre pedras

E peço-lhes que também levem os dias enfadonhos

Que emolduram meu viver onde só desenganos medra

Numa sucessão de sonhos não realizados!

Mas na tela da minha janela, vejo a lua despontar soberana

E, sorrateiramente, no meu chão vem derramar raios

De amor, lendo minha mão como se fosse cigana

Falando de uma nova emoção que viria em sorrisos gaios

Trazer vigor ao meu corpo e alento a meu coração!

Na tela da minha janela eu me transformei num rei

Que conheceu sua rainha como num conto de fada

Arrefecendo a dor e a saudade que há tempo encontrei

Nostalgicamente me tornando desprezível em cada

Dia que nascia, a cada pôr de sol que via em desolação!

Mena Azevedo