Confidência de um portovelhense
 
 
 
                  A Carlos Drummond de Andrade
 
 
 
 
Por algum tempo vivi em Porto Velho.
Não nasci em Porto Velho.
Talvez por isso tornei-me abúlico,
macambúzio e estranho: de estanho.
Quase todo meu ser de cassiterita.
Esse fascínio por estrelas cadentes, fogos-fátuos
pirilampos incandescentes.
Que fazem da minha vida uma rocha dura.
Marcada de cicatrizes e queimaduras ardentes.
Sem poesia e sentimentos.
E essa refração que na vida é pura amargura
desesperança e solidão
 
o sonho de apaixonar-se, que me atormenta a vida
vem de Porto Velho, de seus blues azuis, sem amantes e sem oceanos esverdeados.
 
E a sina dessa angústia existencial, que transformo em canções,
é calorosa lembrança de portovelhense.
 
De Porto Velho trouxe os sonetos de Vespasiano Ramos e
Marcelino Bolívar que te oferto.
Esse ouro do Madeira e diamantes sujos da foz do Jaci - Paraná.
Esperança mil da terra anil brasilis.
Esse quadro do arraial de São João da Rita Queiroz.
Esta pele de gato maracajá no chão da sala de jantar.
Esta vaidade, esta cabeça pensativa.
 
Tive jóia, tive rebanhos, possui terras.
Hoje sou servidor público federal da união
E Porto Velho é uma fotografia
envelhecida de uma antiga Polaroid
ultrapassada no porão.
Mas que saudade!
 
                             Luiz Alfredo – poeta.
 
 
 
 
 
 
luiefmm
Enviado por luiefmm em 23/01/2014
Reeditado em 23/01/2014
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