Araguaya
Na estrada lenta da montanha de Araguaya
Cai a neblina da noite calma que desmaia
Curvas perigosas, caminho sinuoso
A pequena cidade desperta lentamente do seu sono
O galo canta todo dia de manhã
Sereno escorre gota no bosque de poncã
No cafezal verdinho ainda molhado da madrugada
Caminha o peão pra lida na terra arada
De longe apita o trem que se aproxima
Pouca gente aguarda a chegada nesse clima
Cedinho vão de pé para a estação
Com esperança rota e mala velha na mão
De batina o padre abre as portas da igreja
Prepara a missa para quem o céu almeja
Toca sem parar o sino de chamar beata
Que de terço na mão já espera há muito na praça
O caixeiro acorda na pensão da Dona Anita
Fogão de lenha, café coado, broa e puína
Da casa caiada arrumada da Nicota Madrinha
Ouve-se pertinho o cortar madeira na serraria
Na pracinha masca o fumo de rolo o moço velho
Espia da porta do armazém amarrotado de terno
A locomotica da Vale puxando os vagões de ferro
Que sempre deixa no caminho o rabo de minério
Com Padrinho Ronchi saio pro rio pra pescar piaba
De vara na mão a gente segue no meio da estrada
No anzol miolo de pão e fubá velho pra isca
E senta o banquinho menino, quietinho nem pisca
De quermesse animada de sábado
Cheiro de torresmo tira-gosto no saco
A venda cheia de tomar cachaça
Nem espera hoje pra curar ressaca
E lá do morro o cemitério vigia a cidade
Quieto, vazio, cheio de mato na lápide
A estação fica cheia de gente que vai e que vem
À espera atrasada sentada de mais um trem.