Araguaya

Na estrada lenta da montanha de Araguaya

Cai a neblina da noite calma que desmaia

Curvas perigosas, caminho sinuoso

A pequena cidade desperta lentamente do seu sono

O galo canta todo dia de manhã

Sereno escorre gota no bosque de poncã

No cafezal verdinho ainda molhado da madrugada

Caminha o peão pra lida na terra arada

De longe apita o trem que se aproxima

Pouca gente aguarda a chegada nesse clima

Cedinho vão de pé para a estação

Com esperança rota e mala velha na mão

De batina o padre abre as portas da igreja

Prepara a missa para quem o céu almeja

Toca sem parar o sino de chamar beata

Que de terço na mão já espera há muito na praça

O caixeiro acorda na pensão da Dona Anita

Fogão de lenha, café coado, broa e puína

Da casa caiada arrumada da Nicota Madrinha

Ouve-se pertinho o cortar madeira na serraria

Na pracinha masca o fumo de rolo o moço velho

Espia da porta do armazém amarrotado de terno

A locomotica da Vale puxando os vagões de ferro

Que sempre deixa no caminho o rabo de minério

Com Padrinho Ronchi saio pro rio pra pescar piaba

De vara na mão a gente segue no meio da estrada

No anzol miolo de pão e fubá velho pra isca

E senta o banquinho menino, quietinho nem pisca

De quermesse animada de sábado

Cheiro de torresmo tira-gosto no saco

A venda cheia de tomar cachaça

Nem espera hoje pra curar ressaca

E lá do morro o cemitério vigia a cidade

Quieto, vazio, cheio de mato na lápide

A estação fica cheia de gente que vai e que vem

À espera atrasada sentada de mais um trem.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 21/05/2007
Reeditado em 16/02/2008
Código do texto: T495070