Palavras brutas

Não choram as letras para serem criadas;

Desejam, ecoam para serem tiradas

Do mundo em que me afogo em lágrimas

De fundos olhos que fizeram rimas.

Fumaça, carros atropelam passos

De passantes que atravessam ruas

E umbigos baixos de pés descalços

De rostos velhos em crianças nuas.

A miséria e a fome assolam cidades

Ao lado da fartura que se monopoliza.

Cérebros imparciais não socializam

Pela linguagem crua a desonestidade.

Corações exatos continuam fortes

Qual gritos de vítimas no interior de grutas

E costelas magras de crianças brutas

Espancam-se, matam, filmadas sem cortes.

Cenas de televisão tripudiam dentro

Da minha cabeça quase inerte, morta...

De idéias novas, cognição ativa que recorta

Uma paisagem triste tal um quadro.

Como podem as letras desejar criadas

Serem, se torta é a sensibilidade

Sem compaixão nem caridades

Prum mundo com crianças armadas.

Mas as letras calam e não se contorcem,

Não ativam fúrias da massa dormente.

As idéias páram contidas, escurecem...

Vulgares, não são mais sementes.

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 02/08/2008
Reeditado em 08/02/2009
Código do texto: T1110192
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