Cançoneta
o estupefaciente verso cândido
escrito em cançoneta hoje à tarde,
escrevo na tristeza de adido,
num país de exílio, onde paillarde
preparo pra jantar em solidão,
sem família, temperos a meu gosto,
sem comensais que comam se me dão,
sem na pátria ver face ou sol-posto.
verso cândido, estupefaciente,
escrito em clausura, isolamento,
sem pretensões de dolce farnient
ou de elevar em glória olhar e mento,
fechado a sete chaves te escrevo
com fito de equilíbrio re-obter
para permanecer além do enlevo,
apesar, apesar, de ser só óbice...
estupefaciente verso cândido,
se Deus existe és minha palavra,
verbo mal conjugado e perdido
antes da ideia virar obra de lavra,
estigma total, definitivo,
ou manifestação idiossincrásica
que imporá um termo aditivo
a minha incapacidade, ora frásica...
de em verso estupefato não tão cândido
dizer do meu caráter algo ambíguo,
que ao menos solitário sou banido
e fecho-me no cômodo contíguo,
com alimentos, água e um penico
sem querer mais ofertas de amor,
que não há nada cândido nem rico,
para além da tristeza e do fedor...