Cançoneta

o estupefaciente verso cândido

escrito em cançoneta hoje à tarde,

escrevo na tristeza de adido,

num país de exílio, onde paillarde

preparo pra jantar em solidão,

sem família, temperos a meu gosto,

sem comensais que comam se me dão,

sem na pátria ver face ou sol-posto.

verso cândido, estupefaciente,

escrito em clausura, isolamento,

sem pretensões de dolce farnient

ou de elevar em glória olhar e mento,

fechado a sete chaves te escrevo

com fito de equilíbrio re-obter

para permanecer além do enlevo,

apesar, apesar, de ser só óbice...

estupefaciente verso cândido,

se Deus existe és minha palavra,

verbo mal conjugado e perdido

antes da ideia virar obra de lavra,

estigma total, definitivo,

ou manifestação idiossincrásica

que imporá um termo aditivo

a minha incapacidade, ora frásica...

de em verso estupefato não tão cândido

dizer do meu caráter algo ambíguo,

que ao menos solitário sou banido

e fecho-me no cômodo contíguo,

com alimentos, água e um penico

sem querer mais ofertas de amor,

que não há nada cândido nem rico,

para além da tristeza e do fedor...

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 25/09/2010
Código do texto: T2519871
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