HÁ VIDA NO BONECO DE NEVE
1
Julgas que não tenho vida,
Que sou mais um brinquedo
Para jogares fora!...
2
As tuas mãos nuas e inocentes romperam o véu,
Moldando do nada, esta figura grosseira
Dos dóceis farrapos caídos do céu...
Criaste-me em jeito de brincadeira
E riste alto enquanto me erigias...
O meu corpo vibrou com as tuas gargalhadas cristalinas,
O meu coração de GELO começou a bater vida quente e genuína
E partilhei a tal felicidade com a minha invisível alegria!...
3
Abri
Os olhos e vi
Crianças correndo em meu redor...
Acabaram-me o rosto, colocando um tosco nariz!...
Vestiram-me um casaco velho, mas tão quente e acolhedor!...
Todo o meu corpo aqueceu por dentro e sorriu...
Os raios do sol distante, brilharam mais intensamente
Nesta minha vida cândida e inocente…
E fui o Boneco de Neve mais feliz
Que alguma vez existiu! …
4
Mas é tudo tão efémero no Mundo dos seres humanos!…
Quando a novidade se desvanece,
E já nada mais lhes interessa,
As inocentes, mas sempre cruéis crianças, perdem todo o interesse
E voltam a sua atenção para uma nova sede que cresce,
Até que tal brinquedo, inevitavelmente as aborreça…
5
E o sol da tarde vem derreter o meu calor…
Lentamente sinto-me desvanecer,
Afogado nas minhas próprias ilusões.
A minha felicidade durou eternos minutos!…
Afinal, a alegria das crianças criou
O Milagre da Vida,
Mas o seu distanciamento originou
O frio da frustração despida...
6
O meu corpo e a minha alma
Fenecem suavemente...
E eu fico imaginando,
Quantas vidas morrem constantemente
Vítimas das ilusões humanas,
Que se desvanecem cobardemente!...
7
Nada mais importa!...
E na hora
Da derradeira derrota,
Há que reconhecê-lo:
O meu coração é DEGELO…