MINHA ÚLTIMA ORAÇÃO

Deus, eu que sou o esboço de um protozoário

A penugem morta de um abutre

A fragrância torpe de um cadáver

A secreção escura da ferida.

Deus, eu que de verdade tenho só essas palavras

Que não valho o chão que o porco pisa

Que não sirvo de adubo nem para as pragas

Que sou a sílaba tônica da mentira

Deus, eu que te reneguei por mais do que três vezes

Que sei dos meus pecados, mas zelo por eles

Que gosto da luxúria, da promiscuidade

Que faço anedotas com a minha própria dor e miséria

Deus, é esse micro ser que não deveria dirigir-lhe o pensamento

Que te implora por consolo, que grita em tom de apelo

Para que não me olhe, mesmo de relance

Para que me escute quando não houver nada mais importante para fazer

Para que me conceda o perdão por compaixão a um ser como eu, desprovida de espírito.

Deus, se eu não estiver sendo muito indiscreta

Peço que as minhas orações passem do teto

E que haja luz na minha escuridão vil

E que haja paz que meu peito jamais viu

E que ao fim da minha jornada

Ainda que cega, eu veja a tua glória

Ainda que muda, eu cante o teu amor

Ainda que surda, eu escute a tua voz

E ainda que morta, eu viva o esplendor da salvação,

Se houver!!

Somente se houver, uma para isto o que sou:

Uma excrescência Humana!!

Ainda Menina Mar
Enviado por Ainda Menina Mar em 10/01/2018
Reeditado em 14/01/2018
Código do texto: T6222652
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