Traquinagens do Tempo

Sentada na beirada da cama de costas para ele

Não parecia que caminhava para os 50 anos.

Tinha um corpo de mocinha e a pele sedosa,

Nua, como se esperasse um elogio.

E ele como se fosse um estudante de anatomia, diz.

Eu não mudaria nada em você, que já é divina!

A partir daí viveram juntos, se divertiam

Com as coisas simples, como cozinharem juntos,

E dormiam um por dentro do outro.

Mas agora ele mutilado dela, tenta recordar

Como era, como era cada uma delas.

Porque ela tinha o dom de ser muitas

E renascer com frequência.

Mas a memória se nega a recordar e aceitar,

O corpo gelado e vazio de todas elas,

De todas as mulheres que ela sempre foi.

Do outro lado da cama alguém diz.

Infarto, como pode alguém morrer sorrindo?

Ela se levanta e flutua até o banheiro...

Fernando Alencar

18/09/2017*23:50 hs.

Fernando Alencar
Enviado por Fernando Alencar em 22/12/2019
Código do texto: T6824843
Classificação de conteúdo: seguro