Traquinagens do Tempo
Sentada na beirada da cama de costas para ele
Não parecia que caminhava para os 50 anos.
Tinha um corpo de mocinha e a pele sedosa,
Nua, como se esperasse um elogio.
E ele como se fosse um estudante de anatomia, diz.
Eu não mudaria nada em você, que já é divina!
A partir daí viveram juntos, se divertiam
Com as coisas simples, como cozinharem juntos,
E dormiam um por dentro do outro.
Mas agora ele mutilado dela, tenta recordar
Como era, como era cada uma delas.
Porque ela tinha o dom de ser muitas
E renascer com frequência.
Mas a memória se nega a recordar e aceitar,
O corpo gelado e vazio de todas elas,
De todas as mulheres que ela sempre foi.
Do outro lado da cama alguém diz.
Infarto, como pode alguém morrer sorrindo?
Ela se levanta e flutua até o banheiro...
Fernando Alencar
18/09/2017*23:50 hs.