David
Outrora forte, andar confiante
Na foto antiga de terno alinhado
Parecia figura importante
Passos largos, rosto zangado
Da janela do quarto
Que dava pra rua
Sentava a calçada
Nas noites de lua
Puxava o banquinho
Peças no tabuleiro
No jogo de damas
Eu movia primeiro
Na escrivaninha sentado
Caneta de pena na mão
Nunca esqueceu o riscado
Com o pé firme, batia no chão
Avô de face cansada
Na vida escolado
De histórias amargas
E silêncio cordato
No sofá da sala
O corpo franzino
Somente calava
Esperava um carinho
De pijamas, magro
Sem olhos no rosto
De ouvido selado
Jazia deitado, roto
Carrego nos braços
Corro da morte
Um último abraço
Sem peso, sem sorte.