Negro

All the pictures have all been washed in black, tattooed everything

All the love gone bad turned my world to black

Tattooed all I see, all that I am, all that I'll be, yeah

(Eddie Vedder/Stone Gossard)

Negros são teus cabelos, teus olhos, tuas asas...

Cobre com a cor de teus encantos

Meus sonhos desbotados, desfeitos em desencantos,

Minha vida enegrecida de pesadelos.

Negro esse teu manto infinito

A lamber a atmosfera dos dias,

As ruas e eras por onde passas...

Assim como são negros teu descanso e teus passeios

Quando vestes teu leve traje de fresca primavera

E a brisa evapora frente à tua respiração.

Sombrio é o teu destino...

Veste de preto minhas feridas,

Chagas que sangram gotas da toxina que, a sorrir, inoculaste-me.

Negros são teus passos,

Teu rastro a serpentear abismos em trevas...

Esconde de mim teus caminhos.

Oculta-me tua escura luz

Que revela a clareira onde bailas.

Pois negra deve ser a tua dança:

Tu, a tocar o solo que te afaga os pés,

Folhas e arbustos a roçar tua pele,

Eriçar-te os pêlos do corpo...

Negras são as estrelas de tua coroa invisível

Visível apenas para mim,

Astro fundido em tua incandescência,

Perdido por não orbitar-te.

Acende com a escuridão os corpos celestes que giram em redor de ti

E ofusca o breu do universo.

Deixa cego Deus a tatear pelas ruínas do Paraíso,

A embaraçar nos atrasos que ele próprio

Destinou à desgraçada raça humana;

Tropeçar no fascínio mais puro, singelo e casual

De uma manhã de trabalho.

De teus lábios entreabertos,

Por entre teus dentes alvos e perfeitos,

Fulgor de maldições,

Eletricidade etérea emana tua doce língua

Ao expelir anseios e caprichos.

A sombria tempestade brinca aos teus pés como um manso filhote

E a natureza é como anéis em teus dedos...

Negra é tua beleza e tua imponência

De estátua celestial

Expostas em esquinas quaisquer;

O vento insolente te bagunçando os cabelos

A cobrir-te o rosto majestoso...

Apaga da existência quem já não vive;

Quem teve as pernas cortadas de não poder ir mais a lugar algum;

Quem teve os lugares roubados

De não ter onde ficar.

Faz da vida um tesouro só teu

E pinta de preto a paz que é sofrer

No obscuro e navegável oceano do coração sem fim...

Lester Cooper
Enviado por Lester Cooper em 05/02/2021
Código do texto: T7177500
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