ENCONTRO-ME SÓ
Há muito tempo que me encontro só,
compondo minhas árias de saudade,
o vento e o pó, na minha visão
me ofusca a claridade.
Cantando e chorando meu lamento,
pungentes dores dilaceram o peito
de quem tem só o sofrimento,
dia e noite, deitado no leito.
Todas as dores e angústias vão
tornando amarga a minha vida,
que segue a luz como o esporão
do frágil caule procurando a vida.
Opacos dias atormentam a alma,
sempre carente de compreensão,
do humano que mantém a calma,
num mundo podre de perversão.
Seguindo em frente,fico à espera
de novo dia, de uma nova era,
que há de vir para quem espera,
tornando mansa, todas as feras.
Mas se, porém, nada acontecer,
que mude a face do mundo todo;
com certeza, terei que morrer
e não ter que me chafurdar no lodo.
05/05/84- VEM