Orfeu no espelho

Leves e de mãos dadas

Orfeu e Eurídice começariam

o passeio, ela resgatada

do inferno feio e profundo.

Quase na saída do inferno;

Caim disse a Orfeu:

olhe para trás e Orfeu

se viu Caim, e Caim

saltitou alegre como labaredas.

O que aconteceu com Orfeu?

Aquele que com sua lira

fez Hades chorar, aquele

que comoveu Perséfone

a ponto dela influenciar

seu marido a libertar Eurídice.

Sob única condição

de não olhar para trás.

Orfeu olhou para trás,

inseguro. Eurídice estava lá,

já transmutada em espectro.

Quem poderia dentro de Orfeu

trair a poesia tão pequenamente?

Quem não deixou na terra

nenhum rastro de poesia?

E foi o sucedido em Orfeu:

nunca mais cantou ou compôs,

se forçou a nunca mais amar

nenhuma mulher desse mundo.

Orfeu foi rejeição de si mesmo

e do amor, da poesia e da lira.

Morto foi por mulheres:

as Menéades, que mostraram

ao mundo jamais aceitarem

a morte da poesia e do amor.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 12/02/2022
Código do texto: T7450682
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