Ensaio do dilúvio ou Petrópolis 2022

cuia do olho convexa

órbita em casa de João

de barro, relógio cuco

-

atrasado pondo ovo de serpente,

gema a escorrer do canto

que nem lava mascava

-

no esplendor da tempestade

desabando casas sob

o morro dos soterrados

-

enquanto o desmatamento

celebra o machado cortante

desabando serras nuas

-

de raízes e seivas e caules;

sob a terra morre criança.

tsunami caído do céu

ensaia apenas o dilúvio

capaz de redimir o mundo.

-

a mãe cava com a enxada

a esperança do filho vivo

não mais carregado no futuro;

sem mais se poder dizer:

papai do céu o levou.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 17/02/2022
Reeditado em 17/02/2022
Código do texto: T7454245
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