Ensaio do dilúvio ou Petrópolis 2022
cuia do olho convexa
órbita em casa de João
de barro, relógio cuco
-
atrasado pondo ovo de serpente,
gema a escorrer do canto
que nem lava mascava
-
no esplendor da tempestade
desabando casas sob
o morro dos soterrados
-
enquanto o desmatamento
celebra o machado cortante
desabando serras nuas
-
de raízes e seivas e caules;
sob a terra morre criança.
tsunami caído do céu
ensaia apenas o dilúvio
capaz de redimir o mundo.
-
a mãe cava com a enxada
a esperança do filho vivo
não mais carregado no futuro;
sem mais se poder dizer:
papai do céu o levou.