Iansã
Eis o fim do túnel,
nascimento, enfim, parto,
do materno anel,
ao seio me farto,
sugo com força o colostro,
durmo no meu quarto,
na cama me emplastro,
choro com os pulmões plenos,
no céu há um astro,
um luar ao menos
minguante, vem me acolher
os braços pequenos,
soltos, para mulher
levantar, com mãos em concha,
ao filho acolher,
lavar, por colcha
limpa, coberta de lã,
durmo como rocha,
paz de pedra sã,
os Eguns se achegam presto,
sou filho de Iansã,
durmo no cabresto
feito de ar, vento e brisa,
não sonho de resto,
consciência lisa,
acordo na madureza
da vida imprecisa.
Nota: sou católico, mas até recentemente fui agnóstico, morei em Salvador, Bahia, por 5 anos, e senti a espiritualidade do candomblé em quem acredita. Por isso a poesia é espiritualista com todo o mérito e respeito.