ATROPELAMENTO DO INSETO

Fui andando

distraidamente

Como se ninguém

me visse

Como se eu não olhasse

ninguém

Como quando dirijo

velozmente

e atropelo

insetos e formigas

involuntariamente

Fui pensando

descompromissadamente

Como se nada

existisse

Como se eu me bastasse

Como se

não precisasse

absorver a paisagem

Como se eu pudesse

evitar a morte presente

implicitamente

Fui morrendo

espaçadamente

Como se

não percebesse

o dia-a-dia

impreterivelmente

Como se o tempo não existisse

e eu me eximisse de

conscientemente

viver a morte

de cada instante

cotidianamente