POUCO CONHECIMENTO**

Noto que Deus me deu a vontade

e a necessidade de contar histórias,

de traçar enredos e falar de desejos.

Deu-me a palavra

e o desconhecido para desvendar.

Justifico assim o meu delírio

de ir além do que aprendi nos livros.

Vejo com clarividência

que onde nasce a luz nasce a alma

e o universo crepita, cintila,

criando vida na água.

A natureza procria na dança dos planetas,

o oceano balança, faz o contrapeso.

Na Terra tudo é único e se multiplica

e o silêncio só existe à distância,

de perto tudo são explosões nucleares,

mistério enquanto se desconhece.

Estrelas acendem brilhos no cosmos

e na terra o homem busca,

no infindo fragmento, a fonte atômica.

Insiste em produzir energia sem vida

contra meu desejo anticientífico, humano, animal,

de sobreviver à hecatombe total.

O homem é só uma doença do planeta,

um vírus letal em guerra constante,

e eu um mero pensador sem instrução,

sem revelação divina

a me imiscuir por caminhos

de onde já nem sei sair.

Sou bicho acuado no concreto,

na encruzilhada da vida, no meio de homens e morte

tentando sobreviver.

Sou o cientista sem instrução,

alquimista virtual,

mesclando cores, odores e palavras,

trotando no cavalo louco do pensamento.

Sou como o vento balançando a mata,

derrubando ninhos,

provocando revoadas e debandes.

Mas logo me acalmo

e volto para o assento comum dos mortais.

Já não quero viajar pelas sendas estreitas e frestas da realidade

Inventar um mundo é fácil;

o duro é desmanchar a rocha

e fazê-lo escorrer como lava de vulcão.

cp-araujo@uol.com.br