Vislumbres De Uma Alma

Vislumbres de uma alma

Em tudo havia os contornos vaporosos...

De alvas nuvens todo céu se empestiava!

E pela bruma com os passos vagarosos

Aonde estou? Eu ao silêncio perguntava!

Igual alguém que desconhece a aventura

Em que foi posto; prosseguia com receio

Na vastidão de um deserto de brancura

Sem viva alma que cessasse o meu anseio!

A tatear na densidade nevoenta

Visei ao longe a interação de um pretume,

Como moscardos sobre a pele purulenta

Como sardinhas agrupadas em cardume!

Aproximei-me, e agora muito perto

Logrei notar a cena mais que nauseosa

De um corpo humano infestado e encoberto

Por uma gangue de urubus, impetuosa!

Atarantado, já aos pés daquele evento

Joguei o braço em sinal de exortação

Pra que voassem do cadáver famulento,

Mas insucesso obtive em minha ação!

Berrei , pra que não mais o devorassem

Indiferentes ao anseio do meus gritos

As negras aves entoavam seus crocitos

Como se o som de minha voz ignorassem!

Uma nervosa lhe bicava o pobre reto,

Outra mais hábil devorava o intestino...

Até que todas de um modo repentino

Foram pra longe do despojo abjeto!

Eu divisava o defunto agora exposto,

Somente a face lhe restara inviolada

Ó pelos céus! Reconheci aquele rosto

Eu era alma a vagar no próprio nada!

Moreira Júnior
Enviado por Moreira Júnior em 13/02/2023
Reeditado em 13/02/2023
Código do texto: T7718439
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