A VELA DA PROCISSÃO

[ Caia a noitinha !

Dez anos eu contava

Dez anos eu contava , quando sem mais e menos , coloquei minha melhor muda de roupas , que aliás , era o meu uniforme da escola e entrei na procissão da sexta-feira santa que passava próximo à minha casa , sem avisar a ningúem.

Encabulado porém , não tive a coragem de pedir que acendessem a vela que eu trazia , sendo que a mesma entrou e saiu intacta da referida procissão !

Enquanto isso , todos lá em casa me procuravam aflitos,pelo centro da pacata cidade . . . ]

Era sexta-feira santa

dia santo e de paixão.

Calças curtas, meias brancas,

adentrei na procissão.

A marcha lenta seguia

serpeando a vila então.

Com um canto religioso

caminhava a multidão.

As velas como um rosário

clareavam a escuridão,

menos uma em meu bolso

que eu hesitava em por a mão.

Pisou becos e avenidas

aquela enorme reunião

carregando o andor sagrado

com fé, amor e emoção.

As velas todas ardiam

e marcavam aquele chão,

menos uma em meu bolso

que eu hesitava em por a mão.

Já a noite era alta

na matriz a dispersão,

eu lá estava perdido

quando vi Sebastião.

Que era compadre e vizinho,

funcionário em Cubatão,

de crisma era meu padrinho

e afilhados de montão!

E mesmo sendo meganha

tinha lá bom coração

e terminada a façanha,

fui pra casa de jeepão!

Todos lá já me esperavam

incontidos na aflição,

me abraçaram e perguntaram:

__ você foi na procissão?

E a tal vela ainda virgem

teve ali destino são.

Apesar do desatino,

cumpriu a sua missão.

Protegida da garoa

fez-se prece em elevação,

servindo então ao evento

num cantinho do mourão.

Queimou madrugada adentro

ali mesmo no portão.

Com amor, fé e sentimento,

a vela da procissão! ! !

SBC-SP.

27/06/2002-José Alberto Lopes.

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 15/04/2006
Reeditado em 18/05/2023
Código do texto: T139494
Classificação de conteúdo: seguro