Lua Cheia

Redonda a lua

que faz clarão

na minha varanda.

Recordação distante

da infância nutrida

de amor e esperança.

Doce saudade

que vem num relance

ao olhar para o céu.

Com o dedo para o alto

deixo escapar:

-Olhe a lua!

O mundo da máquina

nada sabe da lua

que ilumina outro mundo...

E a saudade me leva pra rua

com lembranças tão caras

num suspiro profundo.

Cantigas de roda, Boca de forno...

E a lua a espiar

as brincadeiras inocentes como as crianças

que brincavam de Esconde-Esconde.

E a lua entrava nas nuvens e saía...

-Olhe, a lua está andando!

Meninos e meninas

inocentes, mas traquinas

cantavam, gritavam, corriam.

O olhar inquieto acompanhava

a inquietude da lua

que entrava e saía das nuvens vazias.

Noite clara tão curta!

pra tão longas brincadeiras:

Chicotinho queimado, Pai Francisco

Cabra cega,amarelinha...

Que mais brincadeiras havia

No caderno de Lucinha?

Uma voz macia e calma

chegava até a rua...

-Meninos, é hora!

Era mamãe com seu desvelo maternal.

Olhares eram trocados

mas tudo era natural.

-E a corda, onde está?

Guarde-a para amanhã

porque, mamãe, não brinquei

de anelzinho e nem cantei

as cantigas de roda

nem meus versos joguei.

E o tempo tão bom

passava depressa

como o meu pensamento

ao olhar para o céu agora.

Onde ficaram as Cantigas de Roda?

A doce poesia do tempo de outrora?