ABIU

De janeiro a março
frutifica abieiro,
árvore amazônica
de forte madeiro,
e o sabor tão doce
da polpa do abiu
foi quem ainda trouxe,
pleno mês de abril
água à minha boca
para que proclame
que ela anda louca
por doçura e charme
pelo abiu sumido
de todo mercado.

Volte abiu ao mundo,
venha todo sápido,
volte a ser plantado
para que quem nasce
possa ter provada
essa fruta doce
mel de ambrosia,
que na minha infância
tirava da árvore,
lavava no tanque
e depois comia
sentado em soleira.

Que inveja sinto
do guri que fui,
pois sou quem deseja
apetecer abiu,
de janeiro a março
nunca em abril.

Mas o abiu sumido
tem sabor lembrança,
de um tempo feliz
quando tudo havia
e nada era luxo
como é agora
poder comer fruto
de sabor dulcíssimo.

Por isso pereço
sempre em mesmo vício
de entender que a terra
virou precipício,
onde tudo some,
some pouco a pouco,
pois nosso planeta
já não é bastante
para tanta gente
faminta e bruta,
que não provará
sabor dessa fruta,
restrita a origem
da selva amazônica,
mas que existia
em qualquer pomar
do Oiapoque a Santos,
porque havia húmus
para o abieiro
crescer e ser árvore,
e frutificar
seu pomo de ouro,
cuja polpa doce
agora é só sápida
na lembrança inútil
deste pobre sátrapa
de vida faustosa
sem sabor de nada!...







Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 18/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2505879
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