Recordações de Agosto

Recordações de Agosto

É agosto e os moinhos dos engenhos me trazem o adocicado cantar litúrgico das antigas senzalas, ainda sinto no céu da boca o sabor do mel da moagem passada e o frio crucial que desce dos morros cobertos pelos canaviais.

Agosto das chuvas torrenciais que faziam o açude transbordar pelo sangrador mais de meio metro, alterando a rotina da cidade e do campo e antigamente encorajando o escravo fujão na calada da noite fria já que os senhores dormiam em cima de camas de tostões e contos de réis.

Trazia ainda uns dias ameno de sol amarelado e me atiçava as lembranças dos compromissos de fim de tarde assumidos nas reuniões na praça "do vai não volta", conhecida também como praça da Escola Rui Barbosa, e os passeios de gangorras no parque armado em frente a mátris Nossa Senhora das Dores, o tropear da burrarada com seus cambitos carregados de cana sem falar na algazarra da molecada na bagaceira.

Meus agostos de lembranças sazonais estão prenhes como os tachos de mel dos engenhos, com a alma adoçada de alfenim e garapa azeda com essência de cravo e laranja.

É na liturgia dos engenhos sob as constelações de estrelas e fogo-fátuos depois da queima da palha no canavial que se reunião todos para comemorar mais um dia de labuta com café, cachaça e viola.

Era o frio renitente de agosto que me empurrava mais cedo da praça de preferência para a casa do meu padrinho pra a beira do fogão a lenha.

Também nas noites estreladas sentar no paredão do açude e ficar fascinado com com o bailado da lua nas águas límpidas enquanto não desligavam o velho motor a diesel que roncava na esquina da rua por trás do cinema, era em agosto que juntava a cabrueira de meninos para contar historias na calçada de Seu Boinha e onde nasciam a maioria dos apelidos da molecada.

texto do livro de Crônicas Poemas e Causos (inédito)