Calma Vila

Claro são os olhos do dia

Suas pupilas é um sol brilhante

Suas retinas prismas de um diamante

Seus óculos escuros uma poesia

Ultra-romântica

Aquela vida que ia calma a todos

Os lugares

Aquela vila quase calada silenciosa

Bucólica

Um verão cheio de andorinhas

Uma igrejinha católica

Seu sino conhece uma bela canção

Um hino em forma de oração

O cata-vento tritura o vento

Com suas hélices eólicas

O moinho tritura as parábolas

Dos grãos

Tudo que passa nessa vila

Vai devagar

A orquídea de muitas luas

A gravidez de algumas flores

A procissão levando seu andor

O beija-flor osculando a hibisco

A lavadeira com a trouxa na cabeça

A rendeira com seu bordado rendados

De eternidade

O terço rezado no terreiro

Mas um dia a dialética cresceu

E na sua antagônica mudança

Levou minha esperança para outros

Alhures

Lugares agitados

Que a noite de fumaça não deixa

Ver seus quasares

Seus luares são nublados

Não consigo ver os reflexos estelares

Nos teus esgotos programados

Seus poemas concretos dizem

Tudo numa palavra

Seus muros de cimento

Onde quaro meus poemas pichados

Mas não esqueci a escola

Onde não aprendi a escrever

O canto da sabiá

Os músculos desenhados da canoa

O boi-bumbá

E a Maria-Fumaça

E as tardes quentes numa cuia

De tacacá

E eu pensava que tudo aquilo

Nunca ia acabar

luiefmm
Enviado por luiefmm em 07/04/2015
Código do texto: T5198469
Classificação de conteúdo: seguro