DONA MORTE E O NOBRE POETA SEM SORTE...

("Ouvi-os vós todos, meus bons portugueses

Pelo cair das folhas, o melhor dos meses,

Mas, tende cautela, não vos faça mal...

Que é o livro mais triste que há em Portugal!")

in SÓ, de António Nobre

1

Quando um dia Ela vier,

(Mas credo! Cruzes! Canhoto!)

Disfarçada de mulher,

(Ou então não seria A…)

Com belo corpo de vamp,

(Num olhar muito maroto…)

Um decote delirante

(Está ficando p’ra tia…)

E pintura a condizer,

Sabem o que vou dizer?...

2

Sim! Quando a Morte vier,

(Porque um dia ela virá!...)

Com falsa serenidade,

(E que outra cara terá?!...)

Dir-lhe-ei, por ser verdade:

(Sei que ela não gostará! …)

“- Sou poeta, Ó Divindade

(Fazendo cara de má…)

E sei que a poesia há-de

(Quem mais acreditará?...)

Trazer-me imortalidade

(Porque não pode ser já…)

Mas, para tal acontecer,

Eu preciso de morrer!”

3

Talvez a morte responda:

(Como em jeito de carinho,

- Porque não é hedionda –

E ser este o meu Destino…)

“- Poeta, és Grande Adivinho!”

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NOTA: O presente poema foi escrito em 06/11/2006 e já antes encontrara algo similar num outro poeta português - que não é muito divulgado - e que foi um dos que mais moldaram a minha forma de escrever: António Nobre e o seu livro "SÓ."

Faço aqui a minha homenagem a este grande poeta português do século dezanove.