ANTIPODA
Cruzas o tapete
de algodão, da sala
algo patética, algo altaneira.
Procuras o fio perdido
do andamento, alguma folha
verde de pequena palmeira
para roer, caderno escolar
velhas fotos, lembranças
de outrem.
És a menor forma de vida
e é melhor do que
a não-vida. Buscas, ativa
o sentido embaralhado
quando caíste da arvore
à que teu destino te atava.
Encontro-te nas dessemelhanças.
Diametralmente oposto
eu que só tenho duas pernas
para minha impassível
crença, pergunto-te:
Para que te servem tantas?
Porque cobrejar nos fios de algodão
deste tapete no chão?
Porque faço tantas perguntas
a uma lagarta lanosa
que não me irá responder.
Deves a tua vida, amiga cara
e tresloucada
há ter adentrado a sala
de um poeta demente
que, invéz de aplicar-lhe
previsível vassourada
põe-se a especular.