ANTIPODA

Cruzas o tapete

de algodão, da sala

algo patética, algo altaneira.

Procuras o fio perdido

do andamento, alguma folha

verde de pequena palmeira

para roer, caderno escolar

velhas fotos, lembranças

de outrem.

És a menor forma de vida

e é melhor do que

a não-vida. Buscas, ativa

o sentido embaralhado

quando caíste da arvore

à que teu destino te atava.

Encontro-te nas dessemelhanças.

Diametralmente oposto

eu que só tenho duas pernas

para minha impassível

crença, pergunto-te:

Para que te servem tantas?

Porque cobrejar nos fios de algodão

deste tapete no chão?

Porque faço tantas perguntas

a uma lagarta lanosa

que não me irá responder.

Deves a tua vida, amiga cara

e tresloucada

há ter adentrado a sala

de um poeta demente

que, invéz de aplicar-lhe

previsível vassourada

põe-se a especular.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 06/02/2007
Código do texto: T371917