Poita

Lancei âncora

Em águas nunca navegadas

Lancei mão

Abandonei as armas

Nas areias esculpi pegadas

Nessas terras distantes

De luas brilhantes

Num solitário instante

Perdi de encontrar-me

De fazer pazes

Afoguei-me em gritos

Entre seres malquistos

De olhos sumidos

De dentes caninos

Sem esquadra ou abrigo

No limite da dor

Com esperanças varridas

Entre a luz e as feridas

A morte e a vida

Encalhei-me a deriva

Náufrago irreal

Na tempestade real

Pesadelos povoados

De fantasmas rogados

Demônios assombrados

Sem estradas ou saídas

Quaisquer sons na partida

Só milhares de milhas

Almas desaparecidas

Existências perdidas

Todavia

Um facho havia

A cortar as vidas

Sopro de alento, poita

Nessas entranhas carcomidas.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 16/01/2008
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