Poita
Lancei âncora
Em águas nunca navegadas
Lancei mão
Abandonei as armas
Nas areias esculpi pegadas
Nessas terras distantes
De luas brilhantes
Num solitário instante
Perdi de encontrar-me
De fazer pazes
Afoguei-me em gritos
Entre seres malquistos
De olhos sumidos
De dentes caninos
Sem esquadra ou abrigo
No limite da dor
Com esperanças varridas
Entre a luz e as feridas
A morte e a vida
Encalhei-me a deriva
Náufrago irreal
Na tempestade real
Pesadelos povoados
De fantasmas rogados
Demônios assombrados
Sem estradas ou saídas
Quaisquer sons na partida
Só milhares de milhas
Almas desaparecidas
Existências perdidas
Todavia
Um facho havia
A cortar as vidas
Sopro de alento, poita
Nessas entranhas carcomidas.