Mulher dos meus sonhos de infância

Ouça-me, por favor, donzela dos meus sonhos infantis,

Amei-te em meus sonhos quando criança

E era tal o amor que minha sede insaciável mantinha esperança

De ser saciada como minha alma eternamente quis.

Mas tu abandonavas-me quando sóbria estava minha mente,

Desacordada de sonhos ébrios em noites soturnas.

Então eu traía-te em sentimentos descrentes

De serem retribuídos por simples e comuns meninas.

Tu eras a virgem esbelta dos campos verdes

Banhados pelos raios d’oiros irradiados

Pelo que representa Hipérion, que ao fim das tardes tem chorado

Desde que Apolo roubou-lhe o carro, assim choram os deuses.

Mas as comuns meninas com quem te traí os sentimentos

Eram não mais do que futuras mulheres tornando-se assim adjetivadas.

E eu magoei-me por crer ser tu como elas

Que me renderam ciúmes e mágoas de ti, que escrevi em lamentos.

Confundi tais frustrações a ti relacionadas

Com as vis decepções que me geraram as meninas banalizadas.

Odiei tanto estas últimas, que cheguei a vê-las

Em pesadelo. E tive que esquecê-las.

Assim generalizei os meus amores como metáfora

Das futuras amantes vindoiras.

Profanei ao difamar-te em letras vingadoras

E condenei-me a tempos solitários ao deixar ir-te embora.

Mas o tempo passou

E com ele eu mudei.

Tornei-me quem eu não era, de forma que passei

Um ano sem conseguir não ser eu.

Uma contradição entre o ser e o não ser

Durante um tempo em que fui os dois.

E, por isso, era tão pouco de cada um que decidi, pois,

Por deixar minha natureza vencer.

Permiti o regresso dos meus sonhos,

Em um dos quais escondida a me esperar

Estava a donzela a chorar.

Pois seu poeta a julgara sem que se defendesse deixar.

Eu pude vê-la acordado

E notei desencantado

Sua nua formosura que antes me encantava,

Mas agora para mim ela apenas sem roupas estava.

Ela viu em meus olhos apaixonados

Por ela já não mais encantados

Que eu agora namorava

Alguém que me amava.

Então pude ver

Sua doce existência desaparecer

Em meio ao lago dos sonhos poéticos

De gotas de orvalho romântico.

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 23/02/2008
Código do texto: T872792
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