Inspiração Inconformista

Reviro meus sótãos e meus porões

Guarnecidos de quinquilharias

Objetos sem uso... Montes de porcarias...

Museu de lembranças... Passados...Ilusões.

Abro as gavetas e encontro apenas pó...

Grito dentro delas e invoco pelo que não vem...

Apenas meu eco responde-me com desdém...

Abandonou-me novamente? Encontro-me só?

Não... Não... Ela está bem presente...

Apenas faz birra e cruza os braços...

Não quer ditar-me mais linhas nem traços...

Enquanto eu não me manter eloqüente.

Ela me quer fora dos estilos pré-existentes...

Ela esperneia para que eu invoque o novo...

Ela exige que eu absorva... Inale o renovo...

Ela quer que eu mantenha minhas linhas deprimentes...

Então leio a biografia dos mestres vagarosamente...

Para quem sabe encontrar o fio da meada...

Que mate essa mesmice que me deixa entediada...

E desperte a minha bela adormecida mente...

Eu gosto de falar do meu passado desgraçado...

Pois ele é uma atualidade ao meu redor...

Gosto de falar do agora... Pois hoje sou bem melhor...

Gosto de falar do futuro que aos meus olhos é revelado.

Eu considero lixo tudo isto que escrevo...

Mas eu amo o modo que me expresso... Descabido...

Amo essa minha necessidade além... Muito além da libido...

Amo rasgar o verbo... Amo quando me atrevo.

Ela faz exigências, pois tentei mudar como me expresso...

Não consigo... Não posso... Esse é meu jeito...

Não quero agradar... Quero chocar o sujeito...

E o predicado da oração subordinada... Virar do avesso!

Eu nasci com um espírito revolucionário...

Uma de minhas almas é uma ativista inconformada...

Uma outra já foi uma negra torturada...

E há a que foi esposa de um latifundiário...

Que maltratava cruelmente seres humanos

Para auto-afirmar sua valentia...

Juntei-me aos escravos certo dia...

E o queimamos... Amarrando-o com panos.

Há uma alma francesa... Prostituta que mancava de uma das pernas...

Há uma alma cigana que tinha por casa o mundo...

Há a moça da nobreza apaixonada por um vagabundo...

Há também uma mulher das cavernas...

Há uma menina vendida pelo próprio pai...

Para um capitão de um enorme navio negro...

Há uma bruxa que conhece dos mistérios o segredo...

Há um ser que constantemente cai...

Enfim... Como poderia eu me expressar de outra forma...

Que não seja está que naturalmente comigo nasceu...

Se fizer de outro modo... Não serei eu!

E não posso ser domada por uma norma...

Não... Não quero aparecer... Nem quero ser famosa...

Eu bem que tentei muitas vezes, ao mundo me adaptar!

Por isso às vezes me debato... Mas começo a endoidar...

Sou uma fera desatrelada... Não somente charmosa...

Sou metade pomba... Mas também metade serpente...

Sou alma pacífica... Com espírito guerreiro...

Sou tanto a mão que borda... Como mão de ferreiro...

Sou metade sã... Mas assumidamente...Metade demente!

Se não houver fúria em minhas linhas...

Enterrem-me! Pois estarei morta!

Ou a cegueira ultrapassou a minha porta!

E a ignorância sorrateira... Se avizinha...

Então... Perdoem-me... Eu uso metáforas para me expressar...

Não me apego em ilusões e fantasias cor de rosa...

Quero a realidade nua e crua... Em rima e prosa...

Não quero enganar... Nem ser da realidade... Mais um a desertar!

São Paulo, 23 de Dezembro de 2008

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 23/12/2008
Código do texto: T1349476
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.